O cartão postal mais conhecido do Porto merece logo uma visita. A Ribeira do Porto mostra um belíssimo casario e é um óptimo início para espreitar os pormenores das ruas estreitas da cidade. Ok, é uma zona mais procurada por turistas, às vezes é um pouco mais caro, etc, mas sentar numa mesita e tomar um “fino” ou um Porto pra perceber melhor o movimento local é uma excelente pedida. Mesmo morando na cidade, eventualmente descia para almoçar ou ali dava uma parada quando passava de bike. Das tascas e restaurantes mais típicos que experimentei, voltei algumas vezes ao
“A Marina” (Cais da Ribeira, 29), que é bem próximo à Ponte D. Luís I. Depois do Queijinho da Serra acompanhado com a Meloa com Porto, tente o Polvo ao Lagareiro com um bom binhinho berde...
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Movimento na Ribeira do Porto. |
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À noite também... |
Por causa do Douro a Ribeira sempre foi uma região muito movimentada, com feiras e mercados, mas a modernidade das calçadas e mobiliário urbano vem de obras feitas em 2001, quando o Porto foi Capital Européia da Cultura. Já o visual actual das casas da Ribeira é do século XV, quando a Ribeira foi reconstruída depois de um grande incêndio. Na parte de cima do muro, fica o
Vinhas D'Alho, restaurante que "revê" elementos da cozinha tradicional e oferece boa comida, num formato contemporâneo e por um preço um pouco mais alto que o standard local. Uma saída é o menu executivo servido de segunda à sexta ao almoço (couvert, sopa, prato, bebida, futa e café), por 13,50 euros. À sexta-feira geralmente o prato do dia sugere Tripas à Moda do Porto. Boa carta de vinhos, com diversas sugestões de vinho "a copo". Muro dos Bacalhoeiros, 139/140. Tlf: 222 012 874. Se fores reservar, pede uma mesa ao lado do muro e prepara a câmera - o visual é perfeito pra deixar um começo de tarde passar. Do outro lado do Rio Douro, a Vila Nova de Gaia e os muitos armazéns de Vinhos do Porto.
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Brasil X Portugal (Copa 2010) |
A Praça da Ribeira, ou Praça do Cubo, está voltada para o Douro, cercada de bares e restaurantes, e ali acontecem diversos eventos abertos a todos. Na parte mais alta está a Fonte de São João Baptista, (século XVIII) padroeiro da cidade, com estátua inaugurada em 2000. Já o chafariz onde está o Cubo (década de 80) data do século XVII e foi reconstruído no local onde escavações descobriram sua posição original.
Bate perna por ali. No nível do rio e por cima, nos muros, há detalhes interessantes a serem descobertos. Uma delas é um portão que fica abaixo do Muro dos Bacalhoeiros, o Postigo do Carvão (postigo é uma pequena porta, que se abre em outra maior). As Muralhas Fernandinas, que foram construídas para proteger o Porto no século XIV, possuíam 18 portas e postigos. O Postigo do Carvão é o único que sobreviveu até hoje.
Na Rua da Alfândega, 10 fica a
Casa do Infante, que já foi Alfândega e Casa da Moeda, mas desde 2005 é um pequeno museu da Câmara Municipal que resume a história da oupação do Porto desde a presença dos romanos, com excelentes instalações e em diversas "media". Dizem que nela nasceu o Infante D. Henrique, o navegador. Há um piso de mosaico romano e diversas evidências de outras épocas do Porto, complementadas por uma maquete do Porto medieval. Muito fixe. É um bom exemplo de como se deve respeitar a História de uma cidade. Entrada baratinha e visita rápida, não deixes de ir. Quem mandou por aqui foi o Pero Vaz de Caminha, que ao se juntar à esquadra de Cabral ocupou o posto de "Mestre da Balança da Casa da Moeda".
Ali perto também tem o
Palácio da Bolsa, que é aberto à visitação. Todo o prédio é imponente e muito bonito, com destaque para o Salão Árabe, impressionante e riquíssimo em detalhes - vale demais conhecer. Eventualmente acontecem concertos de piano neste salão e nele são recebidos chefes de estado. É um óptimo programa e a visita guiada dura meia hora. No início de março acontece ali o
“Essência do Vinho”, um evento que reúne os melhores produtores do país para mostrar seus produtos. Boa chance de conversar com alguns donos de Quintas tradicionais de Portugal.
Dica: Ainda no Palácio da Bolsa, o restaurante
"O Comercial" complementa em alto estilo a visita. Decoração clássica, com pormenores que impressionam. No jantar os preços não chegam a assustar, mas o restaurante oferece um convidativo menu executivo ao almoço, por módicos € 13 (couvert, entrada, prato principal de peixe ou carne, água, vinho, sobremesa e café). Imperdível, eu diria. Satisfação garantida com serviço imp'cável.
Mesmo em frente ao Palácio fica o Mercado Ferreira Borges, recentemente reaproveitado e que agora abriga o
Hard Club, com espaço para eventos, palcos para shows, restaurante e café. Ainda não conheci, mas na próxima ida confiro. O Mercado foi uma iniciativa do governo (1888) para substituir o antigo mercado da Ribeira, mas o povo gostava do anterior e simplesmente ignorou o upgrade. Ficou abandonado por um bom tempo.
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Detalhe do Pimm's, na época das festas juninas |
Da última vez em que estive no Porto conheci um restaurante logo abaixo do Palácio da Bolsa, do outro lado da rua, o
Pimm's. O almoço executivo, bom, rápido e barato ataca de culinária portuguesa, mas o jantar é mais globalizado. A qualquer hora, o atendimento é um dos pontos fortes do estabelecimento.
Mesmo para quem não é enófilo, indico uma parada no
IVDP (Instituto dos Vinhos do Douro e Porto), que possui um espaço de promoção aberto ao público. Conta com uma sala de provas (que são comentadas) e um circuito de visita que apresenta o processo de certificação - apreciações laboratoriais e sensoriais - dos vinhos do Porto e do Douro. Tem um espaço de venda com uma grande variedade destes vinhos. Segunda a Sexta, das 11h00 às 19h00. Rua Ferreira Borges, 27, um pouquinho acima do Palácio da Bolsa.
Não posso deixar de comentar a Igreja de São Francisco (Século XIV!), a única de arquitectura gótica no Porto. Além da talha barroca dourada e dos 600 Kg de ouro da sua decoração interna, o destaque maior é a
Árvore de Jessé, a árvore de família de Jesus, com os 12 Reis de Judah. Só essa peça já vale a visita. Durante o cerco do Porto, em consequência da guerra civil travada entre Liberais e Absolutistas (1833, com D. Pedro I na liderança, lembra?), o claustro gótico de S. Francisco foi totalmente demolido. No seu lugar foi construído o Palácio da Bolsa. Com o ingresso, visitas também as catacumbas e a pequena coleção de arte sacra.
Como todo mundo viu no colégio, a Invasão Francesa em Portugal forçou a vinda da família real para o Brasil. Em maio é sempre lembrada pela Invicta a expulsão das tropas de Napoleão. Se estiver de passagem pelo Porto, não perca!! As fotos são de 2009, quando foram lembrados os 200 anos da Invasão.
Delegações das associações napoleónicas da Holanda, da Bélgica, da Alemanha, de Espanha e do Reino Unido comparecem para reviver a batalha histórica, vestidas como em 1809. A Ribeira é tomada por tiros de canhão e bacamartes, com muita correria e festa ao final. São 500 pessoas na encenação, é muito bacana.
Antes que eu esqueça: é muito oferecido para os turistas um cruzeiro de um dia no Douro, até Peso da Régua.
Opinião pessoal: não vale a pena, pois a paisagem deste trecho já está muito alterada pelos humanos. Se quiser conhecer um trecho intacto do Douro, negocie um passeio de barco a partir do Pinhão, sobre o qual falarei ao referir-me à região do Douro. No Porto, opte pelo passeio que passa pelas pontes e vai até a Foz do Douro, nos barcos típicos dali (rabelos). Dura cerca de 40 minutos, custa 10 euros e é muito bom. A primeira foto deste post e a foto da Igreja de São Francisco foram feitas neste passeio.
E, por fim, tem a Ponte Luiz I. Foi inaugurada em 1886, dia de anos de D. Luiz I, rei de Portugal. A empresa de François Gustave Théophile Seyrig ganhou um concurso que foi realizado para a sua construção, à frente da empresa de Gustave Eiffel, da qual Seyrig já tinha sido sócio e chefe de projecto aquando da construção da Ponte Maria Pia (1877). Realmente, são muito parecidas e lembram a Torre Eiffel. O interessante é que na base está escrito “Ponte Luiz I”. Ouvi dizer que, como o rei não compareceu à inauguração, os tripeiros omitiram o título “Dom”. No site da Câmara do Porto consta “Ponte Luís I”. Sei lá eu. É naturalmente o “Ex libris” da cidade.
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Linha D do metro |
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Perto da Ponte
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Aqui aconteceu uma tragédia durante a Invasão Francesa citada acima., bem antes da construção desta ponte de ferro. Encurralados na Ribeira, milhares de habitantes do Porto tentaram escapar pela
Ponte das Barcas, um corredor de madeira apoiado em barcos. Com o excesso de peso gerado pelo pânico, a ponte não aguentou. O grande número de pessoas que morreu nesse dia (cerca de 4 mil) é lembrado por flores e velas que são depositadas nas
“Alminhas da Ponte”, uma escultura em baixo-relevo que lembra o acidente, ao lado da ponte actual.
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Cervejola e finde tarde na casa da guarda |
Uma nova ponte com barcas foi feita e somente em 1843 foi construída uma ponte pênsil, da qual restaram os pilares e a casa da guarda, que regulava e cobrava portagens para a travessia.
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O que restou da ponte pênsil |
Bem, chega de pontes.
Uma muito-boa opção, perfeita para um jantar (a ver a ponte), é o Dom Tonho. Tem um ambiente com paredes de pedra para dar o clima, é requintado, com um óptimo serviço e oferece comida muito bem cuidada. É fácil de achar, fica próximo à ponte de ferro (Cais da Ribeira, 13 - 15). Tem também uma filial do outro lado do Rio Douro, em Gaia, que fica numa espécie de "cápsula" prateada gigante, logo depois da ponte.