Em Portugal, o termo “Baixa” é dado à zona central das cidades (similar a “downtown”, em inglês). No Porto a Baixa fica na parte alta da cidade.
O ponto de partida para conhecer a Baixa pode ser a Estação São Bento, na Praça Almeida Garrett, de onde partem as linhas para o Norte – Douro e Minho. Construída no início do Século XX, o nome vem do Convento de São Bento de Avé-Maria, que existia ali desde o Século XVI. A tradição da azulejaria tuga está presente, representando cenas históricas do país. Repara no relógio e entra na área onde chegam e saem os comboios, para sentir o clima. É integrada ao metro.
São muitas ruas, talvez seja melhor dividir a área em duas zonas (Clérigos e Bolhão), considerando "Os Aliados" como o centro. É mesmo ali o centro da cidade. A Câmara Municipal do Porto fica na parte mais alta da Avenida dos Aliados, que desce até a Praça da Liberdade com belos edifícios neoclássicos de granito (Século XIX) em ambos os lados. São influência da colônia inglesa que morava no Porto.
Av. dos Aliados. D. Pedro em 1º plano e a Câmara ao fundo |
Em 2006 foi completamente modificada, com a troca de canteiros floridos pelo visual actual, o que gerou discussões acaloradas. Em destaque fica a estátua (1866) dele, o nosso D. Pedro I (D. Pedro IV de Portugal), a segurar a carta constitucional. Diversos bancos (BES, Banif, Caixa Geral de Depósitos, BBVA) estão ali em destaque, assim como o Mc Donald's que foi instalado onde já funcionou o Café Imperial. Difícil ver um fast food com toda essa pompa.
Rua dos Clérigos |
Começamos pela Zona dos Clérigos. Logo na subida pela Rua dos Clérigos já se nota a movimentação da Baixa, cheia de lojas sem marcas conhecidas, confeitarias, eléctricos a passar, gosto dessa zona. Vale uma bisbilhotada na Rua dos Caldeireiros, logo abaixo, estreita e cheia de sobrados. Nessa rua fica o OPorto Poets Hostel. Não me hospedei lá, mas visitei e gostei do astral. Por aí e para baixo, todas as ruas levam à Ribeira.
A Torre dos Clérigos, que é parte da igreja com o mesmo nome, é um monumento barroco que se destaca nas fotos da cidade do Porto. Foi concluída em 1763 por Nicolau Nasoni (arquitecto italiano) e nessa altura os seus 76 metros faziam dela a construção mais alta de Portugal. No primeiro dos 6 andares, a espessura das paredes chega a quase 2 metros. Dizem que a vista do topo compensa a subida dos mais de 200 degraus, mas nunca lá estive (uma vergonha, fica pra próxima).
Escadaria da Lello |
Durante o dia, os dois pontos que logo recomendo são o CPF (Centro Português de Fotografia) e a Livraria Lello. A Livraria (1869) está em todos os guias, é pequena e nela foram filmadas algumas cenas do primeiro Harry Potter – a J.K.Rowling morou algum tempo no Porto quando escreveu o primeiro livro. Planeia a visita, pois fecha aos domingos. E toma cuidado para não tropeçar nos livros, o vitral no tecto e os detalhes da loja são de cair o queixo. Fachada neogótica e interior impressionante. Rua das Carmelitas,144. Um quarteirão para baixo há outro prédio que se destaca entre os vizinhos, o "Edifício das Quatro Estações". Nota os relevos acima das pilastras.
Muita coisa, não? Um café vai bem? E uma taça de vinho? Quer checar os emails? Ao lado da Lello há um simpático café, escondido no 1º andar. Não há placa, mas vale uma subida ao "Era uma vez no Porto" para ver de cima o movimento da rua e a Praça dos Leões. Wifi 0800, eventuais exposições e uma lojinha de discos.
Presos tinham bela visão da cidade... |
O prédio foi construído em 1606, desabou em 1752 e foi reconstruído em 1765. Em frente ao CPF fica o Jardim da Cordoaria, caminho até a Reitoria da Universidade do Porto e ao Carmo.
City Tour de eléctrico |
Essa região da Cordoaria, Largo dos Leões (em frente à Reitoria) e Carmo é movimentada e vai bem uma visita aos seus cafés, bares e restaurantes, tanto de dia quanto à noite. O Café Piolho (Praça de Parada Leitão, 45) fez 100 anos em 2009. É frequentado por estudantes e à noite é quase sempre cheio, como um Baixo Gávea do além-mar :) com finos vendidos para beber em pé, se preferires.
Café Piolho na night |
Almoço na Cordoaria, com a Reitoria ao fundo |
Já vimos gótico, neoclássico, barroco, chegou a vez do Rococó. Até eu, que não sou especialista, apenas confirmei nos guias o que bem me parecia. Datada do Século XVIII (1736), a Igreja do Carmo segue a tendência da época em enfatizar os "pormenores", o que combinava bem com a época rica que Portugal vivia. O Brasil abastecia a Corte de ouro e construíam-se templos como este. Já os azulejos externos (fachada lateral) foram instalados no começo do Século XX, assim como os de outras igrejas e da Estação São Bento. Cabe aqui uma curiosidade: a aplicação de azulejos em fachadas somente se inicia nessa época porque foi um gosto desenvolvido no Brasil durante a estadia da família real na Cidade Maravilhosa. No norte do Brasil o azulejo revelou-se um óptimo protetor externo, por causa das chuvas, surgindo daí a idéia de que também valorizava a estética das fachadas.
Quando muitos portugueses retornam à origem (Séc. XIX) o gosto brasileiro é aos poucos assimilado, principalmente no Norte, na região do Porto, e depois no resto do país. Inicialmente as casas ornamentadas desta forma eram consideradas de gosto duvidoso e chamadas, de forma pejorativa, "casa de brasileiro" ou "casa de penico". Já viste? Sucatrips também é cultura!!!
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